quarta-feira, 13 de outubro de 2010

É muito tarde, muito mesmo
pois veja,
acabou a felicidade e as alegrias
já estão de saída.

É, está frio, mais é por algumas horas
a noite já chega, e o clima esquenta.

O sempre é inevitável,
ele e a eternidade são
partes, necessidades,
dentro de todos nós,
assim como cagar é.

Eu vou andando e vendo o que
os pais ensinam para as crianças, coitadas.
Onde está a revolta, a repulsa?
O nojo? Tudo é lindo,
basta ter sua família,
seu emprego, seu carro,
ir a praia no ano novo, comer
peru no natal, ganhar ovos de
chocolate na páscoa, sambar no
carnaval, e obviamente,
agradecer a 'Deus por Tudo isso.

Não é? Pois eu me lembro quando eu
disse para um senhor mais velho,
Eu não quero crescer, casar, procriar e morrer.
E ele me respondeu, Ei, filho, a vida é isso.

Então me lembro que é tarde, muito tarde mesmo
e EU fiquei para trás todos foram, eu fiquei, sem
nada, Nada eu, nada de mim mesmo, nada de
pessoas, de diversões, de bebidas, cigarros ou mulheres.

E cá estou,
ao lado de meu
túmulo,
que nem foi cavado,
minha sepultura,
meu descanso,
minha paz
Me acalmo ouvindo
alguns pássaros de
peito vermelho,
eles cantam uma
melodia melancólica, mas agradável.
Puxo alguma coisa do bolso,
uma foto, Linda, porque mesmo
que deixei ela casar com aquele filho da puta?
Merda.
Ela podia estar gritando comigo agorqa, por eu não ter
abaixado a tampa da privada, e depois nos trazendo
algumas cervejas enquanto nossos filho brincavam no quintal
e eu os vigiava. Não.

Será que minhas escolhas valeram qualquer coisa?
Será quem vem da Luz, pode ter piedade de tal alma.
Alma essa fudida, acabada, e perdida.
O corpo todo dia reclamando,
e as pessoas dizendo, deixa.

Cada dia acordando e se perguntando
Pra quê?
Como pode ser fácil para
as pessoas aguentarem toda essa merda
de boca fechada.
Eu não sei,
e não pretendo perguntar.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

não

Calmamente minha mão levava o cigarro até a boca. Tragada. A fumaça, eu soltava vagarosamente. O cachorro fazia barulho com o osso que estava roendo, eu batia as cinzas no cinzeiro. A luz do microondas estava acesa, talvez porque a porta estivesse aberta. Eu podia me levantar da cadeira, dar três passos e fecha-la, mas para que? Isto acabaria com minha dor? Dois mosquitos voavam em volta da fruteira, parecem restardados. Ninguém passa por esta cozinha há um bom tempo. Dei duas batidas na carteira com o indicador e puxei um cigarro, demorei um pouco pra achar o isqueiro(nunca se sabe em que bolso foi posto). O osso estava sendo escondido em algum canto, e os mosquitos ainda voavam e pousavam, pousavam normalmente no mamão, vai entender. Levantei, dei alguns passos deixando o cigarro no cinzeiro, fechei a porta do microondas, e a luz dentro dele não se apagou, perdi três passos.