sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Caminhar nas lembranças

Inusitado parei em frente ao velho
de chapéu azul-marinho
Ele queria chorar
mas suas lágrimas estavam
em um túmulo.

O velho tinha bigodes
assim como nossos pais
também o tiveram
a diferença
era a superioridade
de um bigode branco

O Chapéu fazia parte do
branco bigode. E o bigode
do Azul do Chapéu

O velho tossia
tomava café
saía caminhar pelas manhãs
com seu chapéu
com seu bigode
com sua bengala
com sua solidão.

O velho
que enterrou as lágrimas
junto ao túmulo da mulher
não tinha filhos, talvez
até tivesse, mas era algo
longe demais para
se lembrar.

Lembrava o quanto
a falecida gostava de
seu bigode bem aparado.
Nunca deixou um pelo errado.

O chapéu presente
de um irmão que também
já tinha ido p'routro canto
estava velho e sujo.
Talvez porque ele
fosse velho e sujo.

O velho só caminhava pelas
manhãs. Tomava café.
Chá. Sentia dores. Tossia.
Esperava algo acontecer.
Pois este sabia,
outra chance nunca
iria aparecer,
e a vida passou,
talvez de nada adiantou.
Mas o velho apenas continuava
a caminhar, na sua
eterna lembrança
incessante do ontem.
Conformado. Até o dia
que esquecer de
arrumar aqueles
belos bigodes.

Um comentário:

  1. Como um velho de chapéu azul e bigodes
    Costumamos tomar nossos caminhos
    E às vezes nos afastamos da realidade
    Mas quem é que nos contou o que é a realidade
    Quem somos nós
    Que idade temos
    Somos jovens???
    Ou seríamos velhos aparando nossos bigodes
    E deixando os "pêlos" pelos caminhos?

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