segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Apenas como era pra ser

Era pra ser uma coisa feliz, encontra-la na despedida.
Não entendo despedidas.

Bom, ao menos tomamos uma cerveja e meia juntos.
Ouvia a banda, eles tocavam Casa das Máquinas, e ela
dançava perturbadoramente graciosa. Eu estava com azia.
Era um barzinho bom, exceto pela maioria das pessoas,
e o preço, não que fosse tão caro,
mas era mais do que eu me dispunha para pagar.
No momento em que eu cheguei as duas abraçaram-me ao mesmo tempo.
Me beijavam o rosto. Uma delas tinha um cisco, um em cada olho.
Devia estar doendo.

Conversamos sobre como a vida havia sido dura para ambos,
eu discordava. Olhei para a "primeira" e disse queia fumar.
Ela me acompanhou.
No "fumódrumo" improvisado do bar,
encontrei dois caras
discutindo cinema brasileiro,
depois estrangeiro, e por último,
Bukowski.
Pensei em me meter no diálogo dos dois, desisti fácil.

Conversamos por uns quinze minutos. Eu e a "primeira".
Por fim, esta se cansou e foi dançar. Esta dançava mal.
Voltei lá pra cima, a "segunda" esta beijando um cara.

Não sei o que acontece. Tive um caso a muito tempo com ambas,
e nunca senti nada de mais, amor.
Agora meu estômago fervia.
Eu sabia que a qualquer momento que eu a chamasse,
ela largaria do sujeito e viria me dar atenção.
Bem, foi o que eu fiz.

Olhava para ela como um pai vê uma filha. Ou não.

O que eu sei é que sempre estou disposto por ela.
Fomos dançar. Era lindo. Tocava Creedence e eu comprava outra cerveja.

Então me dei conta que já eram duas e meia da manhã,
e eu tinha de estar em outro lugar.
Outro bar.

Contei isto pra "primeira", me deu um beijo, virou-se para a amiga e foram ao banheiro.

A "segunda" estava no banheiro. Os amigos dela e o "carinha" que estava com ela,
estavam chapados e demasiado bêbados, com pouca bebida.
Ela saiu. Sorriu apenas como ela sorri ao me ver, me deus as mãos.
Eu disse "estou indo".

O sorriso virou uma careta doce,
as suas delicadas mãos apertaram as minhas.

O som da banda estava muito alto,
Ela soluçou umas duas vezes,
quando veio me abraçar.

Nunca isto tinha me acontecido.
Ela sussurrou algumas palavras e por fim
"Eu te amo".

Eu acreditei, e retribuí.

Quando um abraço é muito forte, sente-se o coração do outro bater.
Mas desta vez,
as palavras,
o abraço,
alguma coisa,

fez nosso corações baterem em sincronia. Os mesmos intervalos.
Até a música silenciou, esquecemos a balburdia em volta.
Não consegui dizer mais nada. Apenas não queria larga-la.

O uníco som que ouvimos durante um minuto inteiro,
vinha de ambos nossos peitos.

Com muita dificuldade nos separamos, embora ainda juntos,
ela voltou a sorrir, eu ainda não conseguia falar.
"Vou sempre lembrar de você, nunca me esqueça, tá bem"
O máximo que eu consegui fazer foi

apertá-la de volta junto ao meu corpo.

O "carinha" foi embora,
a "primeira" nos observava com um pingo de inveja.
Eu me demorei mais alguns segundos, sorri para ela,
pisquei algumas vezes,
o que fez a fumaça entrar
nos meus olhos,
e uma lágrima
escorrer.

Desci as escadas, paguei a conta, saí do bar ainda tonto.
Acendi um cigarro.
Meu coração havia voltado ao normal.

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