quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Poema ao solitário

Poema ao solitário


O café já não queria descer
não estava quente
ou
frio.
Morno.
Tédio.
Médio.

Fumava os cigarros apenas
pelo vício.
Tinha me esquecido
de apreciá-los.

Com o café.

Tentei o violão
mais não exista melodia capaz de
sair. Ou iludir.
deixei-o de lado. Saí.

Nas ruas as pessoas haviam perdido
a cor, a expressão, a alma.
Crianças brincavam sem diversão,
e sim por obrigação.
Lembrei de quando era melhor
nos tempos mais simples,
em que eu não bebia.

Notei a quantia de inocência que me é roubada
a cada tragada de cigarro.
E também que eu não mais
hesitava
ao
dar
o
primeiro
gole.

Pedi mais dois livros na biblioteca
talvez nem fosse para ler
mas sei que eles
vão me
ajudar. Folheá-los sem escrúpulos.
apenas por prazer.

Entrei em uma lanchonete. Pedi chá.
Acendi meus pensamentos
com a brasa do meu cigarro.
Abri um livro. Não queria ler.
Fui ao balcão.

Olhei para a garçonete. Vida triste.
Paguei a conta.
Voltei.

Nas calçadas as pessoas que passavam por mim
cheiravam bem.
Creio que só eu estava fumando.

A monotonia estava fúnebre
e isto me instigava
a esquecer, E continuar.

Eu nem sei se consigo.

Tinha uma pessoa diferente na rua hoje.
Um tipo estranho. Mal encarado.
Mas ao menos se destacava.

Eu estava á beira da insanidade
quando ouvi o céu
a me confessar.
Que ele é azul a muito tempo
e que por isto
necessita chover. Anoitecer.

Chorei quando cheguei em casa
apenas para passar o tempo.
Lembrava da minha última refeição.
Estava muito boa.
Eu não fazia questão de comer.
Merda. A carteira de cigarros estava para acabar.

No caminho para comprar
os cigarros,
Passei por um bar. Achei que ele nem existia mais.
Ou talvez eu que não existisse.
Entrei.

O dono do bar era o mesmo. Um senhor
cego de um olho, bigodes e mal humor.
Pedi cerveja. Sentei.
Me assustei quando não achei a mesa de sinuca.
Mas fiquei feliz por agora existirem banheiros.

O dia não queria passar.

Comprei cigarros com o mesmo
entusiasmo com
que trabalho.

Queria conversar.
Pensei em ligar para alguém,
mas sabia que estariam ocupados.
Começou a chuviscar. Meu ânimo melhorou.
Estava Frio.
Lembrei do café. Nunca perfeito.

Fiquei ali. Fumando.
Reconsiderando,
Amando
as gotas
que caíam dançando com o vento.
Gelando meu rosto, minhas mãos,
mas aquecendo
minha solidão.

Um comentário: